Ela acabou de saber que só resta apenas sete dias para viver. Ou sete até morrer. Como preferir. Ela não preferia nada, não aceitava. Relutava. Ele, ah coitado, não podia saber de nada. Ela não quis de forma alguma, que ele soubesse dessa notícia urgente. Mas é claro que ele sabia que ela estava doente. Que ela não estava bem. Que eles se distanciaram também. Para quem viveu seis longos anos juntos, seis dias sem ligações, mensagens ou satisfações, é algo muito estranho. Principalmente para uma meiga mulher obcecada e para um grande homem imaturo. Um casal perfeito. E de repente, ela fica doente. Ele precisa viajar. E ela acabou de se internar. O caso é sério, apenas sete dias. Mas ele só retorna com seis. E haja lágrimas outra vez. Pois só esse ano, já foi seu pai e sua avó. Imagina perder, a mulher e o bebê? Ah, esqueci, ela está grávida. E acabou de saber. Entre tantas desgraças, olha que graça, ela irá conhecer seu filho com apenas sete dias de gestação. Afinal, ambos vão morrer. O tempo é um sério acaso. Transforma vírgula em ponto parágrafo. Muitas idas e vindas desse amor, amadureceram uma telepatia inexplicável. Mesmo com quilômetros de distância, ele ouviu seu amor dizer: volta logo, preciso te ver. Apesar, de que, ela tenha dito algo a mais: volta logo, preciso te ver antes de morrer. Que dor que dá. Só de imaginar, o fim do casal. Consigo até premeditar: daqui alguns anos de luto, ele vai conhecer outra mulher, e vai dizer que a ama mais do que tudo. Mas com ela será diferente, seja qual for esse lugar que todos se encontram após a morte, ela estará lá. Mas o arrependimento de não ter visto seu amor antes de morrer irá persegui-la durante toda sua estrada!
Respira! O padre chegou. Veio te dar a benção. Você tem poucas horas de vida. Tem certeza que não quer avisá-lo antes de partir?
Dizia a mãe mais triste do planeta, por ver sua filha e seu neto partirem antes dela. Dizia a mãe mais sábia do planeta, por ver sua filha definhando de amor. E, mesmo que ela tenha permanecido com a ideia de não avisá-lo sobre sua morte, ele pressentiu, ele ouviu. Ele foi atrás dela. Pedir seu perdão, desculpar-se pela traição, jurar sua fidelidade, e como garantia: a eternidade. Ele não viu nada em casa, correu para a vizinha, que já sabia da notícia e falou com cuidado: sua amada está no leito, pronta para virar luz. No auge da sua euforia, entendeu: sua amada está no leito, pronta para dar a luz. E foi correndo comprar um brinquedo. Porque ele iria ser pai. E o brinquedo é o símbolo da felicidade da criança. E a única coisa que pudera interessar aquele pobre rapaz, era fazer alguém feliz. Mas enquanto escolhia ou o rosa ou o azul, ela ouvia doces palavras divinas. Frases confortantes, que sem querer encorajavam-na a se entregar para a luz. A não lutar pela vida, a acreditar no sagrado. E ele encontrou o hospital, trajando ainda o terno e a gravata infectados de corrupção, segurando uma baleia verde muito meiga, e extremamente confortável de pegar. Pediu informações para os funcionários. Ela respirava cada vez mais devagar. Piscava com a esperança de não ter que abrir novamente os olhos. Ele dava passos longos, e pesados. Tremiam o chão. Ela sentia seus batimentos acontecerem com dificuldade. Ele chorava de emoção. Ela de saudade. Ele estava cada vez mais perto do seu grande amor. E ela mais distante. Ele chegou no quarto indicado. Abriu a porta, e deparou-se com um belo quarto de hospital, todo arrumado, perfumado e vazio.
Relaxa! O padre já foi. Ela partiu de vez.
Dramático, li tão ansioso que nem sei se pulei alguma coisa. Ficou OTIMO mas não gosto de historias tristes :(