Um ano e um dia.
Clarisse recebeu
um email,
do remetente menos
esperado do mundo.
César,
completamente sem jeito e sem palavras
pôs-se a falar.
Contou como estava
sua vida, suas feridas,
seus feitos e
arrependimentos.
Não ousou a se
declarar,
muito menos citar
qualquer sentimento ou lembrança.
Descrevia uma
biografia incrivelmente depressiva.
Estava morando com
a mãe doente e o padrasto bêbado,
desiludido com o
emprego.
Engravidou
Jordana, e em breve nascerá Pedro Lucas.
Antes que se
cansasse de ler, César começou a agradecer.
Se referindo
sempre com muito respeito,
chamando-a de
Clarisse Melo,
relatava que
aprendeu algo que nunca esquecerá.
A coragem de
dezembro.
Então, começou a
ousar,
contou uma
história, na qual Clarisse quis esquecer
apesar de nunca
ter conseguido, fingiu bem.
César, dissera em
seu email, que ensinaria isso a seu filho.
Afirmou, que
contaria todas as noites,
antes de dormir,
sobre a história
de uma mulher corajosa,
que abdicou do seu
grande amor,
para tentar ser
feliz.
E que apesar de
ser extremamente contraditório,
ela conseguiu.
Encontrou forças,
num único mês do ano.
O último, porém
mais poderoso,
um mês que reúne
todos os sentimentos em poucos dias, semanas.
Dezembro quer
dizer: tenta, ainda dá tempo.
Tenta ainda é
dezembro!
Mas, César então,
descobriu algo a mais,
algo que Clarisse,
não pudera imaginar!
César descobriu a
coragem em dezembro.
A coragem de se
declarar,
a coragem de
tentar,
a coragem de amar.
E então, César,
conclui o email,
sem final.
Deixando Clarisse,
confusa e intensamente chocada.
Parece que foi
ontem, afinal,
Mas ela não tem
coragem de responder,
não conseguiu
entender.
Pensou bastante e
concluiu,
"César está
louco, não sabe o que diz."
Deixou isso pra
lá.
Ou pelo menos,
tentou.
Era necessário,
involuntário, até porque,
hoje deveria ser
um dos dias mais felizes de sua vida,
ela iria se
formar.
Já estava com a
maquiagem pronta, e a beca estendida.
Focou seus
pensamentos, no discurso que faria mais tarde,
na frente de todos
os seus amigos,
que inclusive
ajudaram-na a se livrar de todos seus dias tristes.
Entretanto, César
voltara a rodear seus pensamentos,
sem que ela
percebesse.
Aquele email,
aquelas palavras, aquela história,
aqueles dois.
Hoje é dezembro!
É o mês que
Clarisse consegue fazer as coisas mais difíceis do mundo,
é claro que ela
vai conseguir discursar perfeitamente.
Nada pode
atrapalhar. Nenhum fantasma do passado.
Um ano, um dia e
uma hora.
Clarisse estava
olhando fixamente para o nada,
olhos cheios
d'água e fazendo contas...
Contava o tempo
que fazia, desde sua liberdade,
contava o tempo
que fazia que não via César.
Então, Clarisse
escutou alguém lhe chamar,
uma voz conhecida,
um timbre único, um coração palpitando sem parar...
Ela desligou-se do
grande nada, que estava olhando fixamente,
e procurou a
direção daquela voz.
Era o mestre de
cerimônias de sua formatura,
pedindo
educadamente, cheio de tensão, que Clarisse começasse a discursar...
Seus olhos
começaram a correr dentre os convidados,
procurando alguma
coisa ou alguém,
procurava olhos
castanhos, cabelo liso preto,
um homem branco,
quase esbelto,
César.
Bem ali. Ela
encontrou César, bem ali.
No meio do salão,
bem vestido e muito emocionado.
Olhou para o canto
esquerdo do salão, e encontrou outro César,
trajando a mesma
roupa, que estava, na ultima vez que se viram.
E então, ela
encontrou outro César, e mais outro, e outro e outro...
Clarisse viu um
salão inteiro, ocupado por Césares de todos os tipos.
Sua visão ficava
cada vez mais ofuscada
não conseguia ver
mais nada a sua frente,
acabou desmaiando.
Acordou.
Assustada, e muito
chorosa.
Na dúvida se foi
um sonho, ou pesadelo.
Sentindo coisas,
que estava adormecida em seu peito, há meses...
Exatamente doze
meses. Um ano e um dia.
Contudo, havia uma
frase marcada em sua mente,
"A coragem de
dezembro" não saia dos seus pensamentos.
Porque esse sonho?
O que dezembro tem para mim?
Não poderia
imaginar resposta alguma,
ficou tão confusa,
que chegou a imaginar, se tudo o que acontecera no último dezembro,
também não
passasse de um sonho.
Coragem, Clarisse,
coragem!
Era isso que ela
ouvia,
do seu próprio
coração.
Ela resolveu ligar
para César,
ela precisava
saber, se tudo foi real.
Ela sabia da
coragem de dezembro, afinal.
Ligou para o mesmo
número, que tinha em sua agenda,
ele teve um ano
para não mudar de número.
Era a chance do
destino, de fazer algo por eles.
A sorte está com
quem?
Não demorou muito,
alguém atendeu.
Um silêncio mútuo
pairava a ligação,
enquanto ela ouvia
um choro de criança,
ele se concentrava
em ouvir a respiração.
Criaram coragem,
responderam juntos.
O "alô"
que disseram, foi extremamente sincronizado,
não conseguiriam
repetir, nem se tivessem ensaiado.
A sorte estava
ali.
Não havia nada
melhor para descontrair.
César criou
coragem, perguntou quem era,
como se não
soubesse, mas temia que não fosse.
Clarisse gaguejou,
não soube responder,
planejou desligar
o telefone, voltar atrás.
Mas ele estava
radiante com a ligação,
e começou a falar.
Tratava-a como se
ainda fossem namorados,
como se morassem
juntos,
como se ainda
fosse dezembro.
Ela criou coragem,
respirou fundo, e pediu para fazer uma pergunta,
prontamente, ele
permitiu.
"Seu filho,
se chama Pedro Lucas?"
Não era exatamente
essa pergunta que ela ligou para fazer,
e muito menos,
era, a que César esperava.
Sua felicidade era
tamanha, que começou a rir.
Chamou-a pelo
apelido carinhoso, que a deu quando namoravam,
"Não, Cacau!
De onde você tirou isso?"
Ela não se
continha. Deduziu que o filho dele tivera outro nome,
mas só conseguia
ouvir o eco de sua voz pronunciando "cacau".
Ficou calada,
pensando, tentando diminuir seus batimentos cardíacos,
suspeitando que
ele pudesse ouvir, de tão forte que eram.
César, estava tão
feliz, que não queria deixar a conversa morrer,
ou a ligação
acabar.
Começou a produzir
perguntas aleatórias como:
o que você almoçou
hoje? qual cor é o esmalte das suas unhas?
E quando ela
conseguiu fôlego para responder, a ligação caiu.
Ele, deduziu que
ela se afundou em arrependimento de ter ligado.
Ela, deduziu que
ele não quis mais esperar por suas perguntas.
E a culpa, era tão
somente da operadora telefônica.
Tudo estava
acabado.
Mas, dezembro é
doce. Dezembro é generoso,
Dezembro não irá
abandonar Clarisse e César, jamais.
Clarisse lembrou,
da coragem de dezembro,
que conheceu em
seus sonhos.
César lembrou, das
palavras de Clarisse,
Decidiram se
ligar.
Infelizmente na
mesma hora.
Não conseguiram
completar a ligação.
E tudo estava indo
por água abaixo novamente,
até que,
chegaram duas
mensagens, uma em cada celular,
informando para
ele que Clarisse tinha efetuado uma chamada,
e para ela que
César também.
Houve uma injeção
de ânimo e esperança,
no coração de cada
um deles.
Clarisse resolveu
ligar, novamente.
Pois estava movida
pela coragem de Dezembro.
César não. Ele não
queria mais falar por telefone...
Ele precisava
tê-la novamente,
ele sabia que
dezembro quer dizer: tenta, ainda dá tempo.
Largou tudo que
estava fazendo,
e saiu correndo
atrás dela.
Ele sabia onde ela
morava, e não queria perder nem um só segundo.
Na correria, não
sentia o celular vibrar.
E as chamadas de
Clarisse, caiam na caixa postal.
O desespero bateu
forte, e ela derramou-se em decepção.
César estava
correndo.
A Cacau de César,
resolveu desistir,
afogou-se em
profundo arrependimento.
César estava
chegando.
Então, ela decidiu
sair.
Precisava dos seus
amigos,
de um consolo
qualquer...
Enxugou a última
lágrima, que prometera derramar por César,
e abriu a porta.
Deu-se de encontro
com César,
ofegante, molhado
em suor, descabelado e escancarando um sorriso, que daria a volta em sua
cabeça.
Ele esticou seus
braços, tal como seus lábios estavam,
e convidou-a para
um abraço apenas com os olhos.
Clarisse só
precisava certificar-se,
de que não estava
apenas sonhando.
Deu um pulo,
atracou-se na
cintura dele, e concedeu-lhe um beijo.
Tudo, de olhos
fechados.
E quando os abriu,
viu César chorar.
De alegria, por
sinal.
Mas os dois sabem,
que tudo isso,
só foi possível,
porque hoje é
dezembro.
que lindo Luana, fique tão anciosa no decorrer da leitura e com medo de que o final não fosse feliz, mas foi melhor que eu imaginei. Parabéns pelo texto :)
Todo mundo fica ansioso pra chegar dezembro e ler as continuações. <3