Comunicado importante.

Marina adverte:

Tenha paciência, ela chata mas é suportável.
É preguiçosa, mas tenha fé, que um dia ela arruma o quarto.
É cabeça dura, mas faz ela pensar que você deu a razão pra ela, que ela pára de encher o saco.
Ela fala o tempo todo no celular, mas um dia ela fala com você, o Jairo também dorme =)
p.s: Por favor, não deixe ela ser a 1º voz, no banheiro, porque se não ela vai ensurdecer o pensionato.
seguindo essas regras, você consegue.
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-Eu posso explicar, eu juro. Quer que eu explique desde o começo ou de onde parou?
- Desde o começo, por favor.
- Então tá. Era uma vez, eu passei no vestibular. Este, é o motivo central. Tive que me mudar, passei pra capital, sem querer me exaltar, mas é que eu sou muito inteligente pra fazer vestibular no interior, hahahaha. Voltando... Acelerando um pouco a história fui parar num pensionato. Confesso, não tava muito animada com a idéia, mas era isso ou ir e voltar todos os dias. Então foi isso. Pensionato. Cheguei lá dia primeiro de Agosto, ansiosa porém preparada. Preparada porque, iria dividir o quarto com outra menina, que poderia ser metida, rica, pobre, fedida, antipática, mal educada, barraqueira, mentirosa...
- Chata...
- Calma, já vou chegar nessa parte. Então, conheci meu quarto. Tenho que subir uma eternidade de escadas. É o 13 da sorte de alguns e azar de outros, particularmente, prefiro acreditar que é o meu da sorte. Então deparo-me com uma carta. Nada formal, é bom reconhecer. Era da tal 'companheira de quarto'. Não me recordo se guardei ou joguei fora, mas era uma cartinha de boas vindas. Foi uma recepção inesperada, pois como ela deve ter aprendido, não sou muito de criar expectativas, e se a futura companheira de quarto não me desse nem 'oi', não seria uma decepção... Então, li a carta e fiquei tranquila, daquela lista lá, já se pode cortar o 'mal educada'. Na cartinha, ela recomendava eu comer uns biscoitos que ela tinha guardado, caso eu tivesse fome. Suspirei. Aparentemente, ela não é metida! E de repente, entra uma moça no meu quarto. Cujo rosto nunca tivera visto na vida inteira. Vai ver ela errou de quarto, pensei. Pois na carta a menina dizia que estava em Fortaleza. Mas, ela se aproxima e se apresenta: Prazer, sou a Marina, sua nova companheira de quarto.
- Sério?
- Sim! Eu cumprimentei-a e sentamos para conversar, e nos conhecer. Nos primeiros vinte minutos descobrimos muitas coisas em comum, e outras bem diferentes. Admito, fiquei tranquila. E ela confessou que também estava feliz comigo. Estava dando tudo certo até então. Mas...
- Mas nem tudo são flores?
- Isso. Nem tudo! Vem o tempo, e casado de papel passado, vem junto a intimidade. Não que isso seja ruim, mas isso traz coisas ruins, também. Por exemplo, criei extrema intimidade de fazer piadas engraçadas, e sem graça, fortes e escuras dela. Ela, com tanta intimidade, não cansava de conversar, e quantas vezes eu queria dormir e quando minhas pálpebras finalmente repousam eu escutava: Ei, Luana... Tu acha que o fulano gosta de mim?. E lá vai eu responder... Ou então, quando ela não aceitava que eu sou diferente, e tenho métodos diferentes, e a conversa com tom de discussão tomava nossas noites. Também conta, o fato de estarmos entupidas de intimidade, e decidimos juntar nossas camas, para render espaço no nosso humilde quarto. Nossos defeitos eram quase os mesmos, infelizmente. Preguiça e gula nos perseguiam. Nós tentávamos fugir, mas uma atrapalhava a outra na fuga. Mas, tal intimidade, nos ofereceu inúmeros momentos de crises. Crises de gargalhada. Gargalhadas altas capazes de incomodar as freiras, e forçá-las contra a sua vontade, bater em nossa porta, reclamando por silêncio.
- Então vocês se davam bem?
- Eu acho que sim, penso que, se não nos déssemos bem, talvez não faríamos o dueto musical e gastronômico. Sim, nós formávamos uma dupla, não tinha nome, mas fazia sucesso. Fazíamos show's no banheiro do quarto andar, periodicamente. Cantávamos de tudo, era só pedir. E quando não pediam, ficávamos fuçando nossa memória em busca de músicas boas. Ela era a primeira voz, pois por ter feito coral a muito tempo se achava a cantora, eu fazia a segunda voz, porque nunca sabia a letra de todas as músicas e preferia cantar só pra mim. No dueto gastronomico, já produzimos muitos pratos. Fizemos um jantar para cinco pessoas, outro para duas, fizemos vários miojos, e algum jantares simples, sobremesas como bolos e uma vez ela fez um ótimo musse de abacaxi.
- Estava bom mesmo?
- Sim, mas não sou muito fã de abacaxi, e particularmente prefiro nosso bolo de limão! Falando em limão, já saímos muitas vezes. Eu trouxe ela para conhecer o interior onde passo meus finais de semana, já fomos ao teatro, cinema, comer sanduíche, tomar guaraná artificial, ouvir música clássica. Falando na orquestra, essa história é muito engraçada.
- Que história?
- É que uma vez fomos assistir à uma orquestra, onde uma amiga da minha faculdade iria participar, ela toca violino. Então por conta do bolo de limão nos atrasamos. O bolo demorou mais de 1h no forno, ela demorou no banho, o ônibus demorou passar e quando passou, estava super lento, aí ela foi conversar com o motorista e perguntar qual é o problema, ai ele disse que ele estava adiantado do horário dele, então ele teria que ir devagar para poder dar o tempo. Ficamos muito ansiosas para chegar, descemos e fomos correndo para a orquestra, chegamos lá, continuamos correndo para a primeira fila, quando nos sentamos, o maestro anuncia: MUITO OBRIGADO PELA PRESENÇA DE VOCÊS, e começa a se despedir. Rimos tanto...
- Isso que é literalmente, chegar no final.
- Pois é. Foram cinco meses, cinco meses de risadas, discussões, segredos, e aprendizado. Apesar de ela ter apenas dezesseis anos, vive a vida como se tivesse dezoito. Bem independente, e esperta vai ter um futuro belíssimo. Aprendi, mesmo que indiretamente. E espero tê-la ensinado algo, NEM QUE SEJA O PORTUGUÊS, haha. Piada interna! No mas, continuaremos a manter contato, e este aviso de cima, é para a minha próxima companheira de quarto.
- Entendi.
- "Se eu pudesse definir ela, definiria como um pássaro..." E Marina, esteja onde estiver, quando precisar, pode contar comigo. A convivência gerou essa amizade que é verdadeira. Obrigada por me aturar.
De sua amiga e ex-companheira de quarto Luana Portela.
p.s: este diálogo é entre eu e eu mesma, aprendi com a marina, vira e mexe ela aparecia perguntando e respondendo alguma coisa pro espelho... segundo ela: EU FALO COMIGO MESMA, E DAÍ?
:D
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p.s²: há muito o que escrever sobre, mas esta pequena homenagem é suficiente para simular um pouco do que vivemos.
p.s³: o título da postagem é outra piada interna.
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